sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Muita sabotagem...

Uma coisa interessante que acontece é que quanto mais eu me proponho a escrever algo belo, mais comum e tola fica a coisa. É quase como um castigo por tentar tentar trilhar o caminho oposto daquele sentido de tornar-se o que se é. Não tem jeito. Manipular ou artificializar a beleza que deveria ser natural é um ato que não me é permitido mesmo. Provavelmente vou me foder em algumas pequenas situações na vida por causa disso. Obrigações burocráticas, horários e datas-limite não serão mesmo meu forte. Não quer dizer que eu seja incapaz de ser disciplinado. Até porque eu tenho admiração pela disciplina, não a declino. Mas o que quero dizer é que uma das coisas que quero e preciso arrancar (mais) para fora de mim é a arte da sabotagem. Quando me ouço, fica claro que eu sou naturalmente um sabotador. E um dos orgulhosos...Não sou mais adolescente, que não sabe lidar com as regras do mundo e pula o portão da escola para rebelar-se contra a imposição desse ou daquele método ou modo de vida que dele esperam. A sabotagem de que falo é justamente a de quem compreende a necessidade de comprometimento e responsabilidade com as coisas todas. No entanto, aquela (a necessidade) que parece não ser tão prazerosa pode se tornar deleitante no momento em que o ato astuto da sabotagem explode. É por isso que ele deve fazer parte de minha vida, imbricado a tudo aquilo que exige de mim uma certa disciplina. Essencialmente, nesse ato, o que estou sabotando é um falso engrandescimento de uma parte de meu Ego metódico e, em certa medida, masoquista, quando ele aparece no desejo de conquista de qualquer coisa, na vontade matadora de sentir-se pleno.
Esse é, ironicamente, exatamente o movimento desse texto. Se permito a mim o fluxo da naturalidade e não penso mais egoicamente no que escrevo, o escrito não se configura mais em tolo e comum. Não, ele simplesmente é. É sincero. É leal. Está sendo. E, nesse estágio, ele nem se interessa mais por julgamentos meus ou do Mundo, ele transcende juízos. E não arde mais como um pecado capital. Só flutua.
No fim, sabotei, a regra perfeccionista e ainda satisfiz meu desejo de postar alguma coisa nessa madrugada.

É... o negócio, então, parece funcionar mesmo.

2 comentários:

Viviane Goncalves disse...

Will, escrever é dificil, parece uma lição de casa esperando uma professora chata para colocar a estrelinha no canto da folha...
Gosto do que tu escreve, da maneira que joga nas linhas a sua fúria "contida", do seu remorso talvez não vivido ainda, da sua necessidade quase fisiologica delirante, pela escrita, o rapaz atrás da tela que não é aspirante, que concentra a tragédia com o bom gosto do bem estar ao avesso da historia que nao pode ser contada por outros por falta de coragem. Tu tens coragem e muita, sabotar é uma lição de vida talvez muito dura, mas és válida, prazer, sem regras, engrandescimento de uma parte do seu ego metódico ou não, é o will ai, e isso tem sentido, sentir cada pedaço do desejo de lançar para o mundo que existe um outro alguem que morre e se levanta todos os dias, e nao faz isso de uma forma simples...
O contato com o outro lado, a Amnéris sabe, o segredo da vida, que tanto procuramos se encontra nas entre - linhas que nao podemos compreender, talvez em versos de outrem calado que não consegue escrever sobre a vida que não tem coragem de nos contar... o sem fundo... o sem mundo...
Beijos

Anônimo disse...

esse cara é um sabotador desde que nasceu. sempre foi um bom menino admirador da disciplina. e, como já disse, um "filha" da puta.

=)